Ao
longo de décadas foram cultivadas crenças e opiniões infundadas,
baseadas em conhecimento empírico. Inúmeros praticantes de academia e
até mesmo professores formaram opiniões sem base cientifica sobre esse
exercício (agachamento). Nesta matéria, tentaremos esclarecer uma
questão discutida há anos.
Afinal, no agachamento pode ou não o joelho ultrapassar a ponta do pé?
Este mito foi criado baseado em suposições e opiniões de praticantes
que vieram a ser instrutores no modelo antigo de gestão de academias,
clubes e outros locais de pratica de exercícios. Esta crença baseia-se
na premissa de que, não projetando seu joelho para frente, o agachamento
se torna mais “seguro”. Para entender o que seria ou não seguro,
tentaremos dar uma visão geral sobre o agachamento e suas
particularidades.
Existem inúmeras formas de realizar este
exercício: com os pés afastados, com os pés unidos, o famoso agachamento
sumô, na máquina, com barra livre e assim por diante. Não queremos aqui
dar receita ou dizer o que é certo ou errado; a intenção aqui é
esclarecer e orientar o praticante para uma melhor escolha em um
programa de treinamento. Quando realizamos um agachamento, nosso corpo
solicita inúmeras estruturas para vencer a resistência imposta, seja ela
do próprio corpo ou de pesos. Estas estruturas dividem o peso de acordo
com a posição em que se encontra o corpo, pois existe um ponto central
de aplicação de carga que é chamado de centro de gravidade. Este centro
de gravidade é o ponto onde a gravidade age com maior intensidade,
gerando uma sobrecarga maior naquele ponto.
Onde se encontra o centro de gravidade?
Na posição ortostática, o centro de gravidade está localizado próximo à
região do umbigo, e é neste ponto que se aplica a força idade. Quando
afastamos um segmento da linha medial do corpo, o centro de gravidade
muda de posição, fazendo com que este se desloque de acordo com o
movimento realizado. Agora que sabemos onde e como funciona o
deslocamento do centro de gravidade e sua aplicação de força, ficou mais
fácil entender uma coisa.
No que o centro de gravidade influencia no agachamento?
Ao realizar um agachamento em que os joelhos não ultrapassam a ponta do
pé, adotamos posturas diferentes para um exercício livre ou na máquina.
No agachamento livre, para equilibrar o corpo, projetamos o quadril
para trás e a cabeça para frente; isso faz com que o centro de massa se
desloque para frente, sobrecarregando totalmente as estruturas que
envolvem a região lombar, tirando grande parte da sobrecarga sobre o
quadríceps e jogando para o glúteo e extensores do quadril. Ao realizar
este exercício na máquina, o praticante, para não ultrapassar o joelho
da ponta do pé, retifica sua lombar e projeta os pés para frente.
Esta manobra gera uma sobrecarga imensa nos joelhos, e somada a um
ângulo de 90º, que é um dos pontos de maior compressão patelo-femoral
que existe, com certeza irá gerar uma lesão no joelho, e quando se trata
da retificação da coluna lombar, este movimento faz com que esta região
suporte menos sobrecarga, aumentando assim, o risco de lesão para esta
região também.
E quanto às estruturas envolvidas no agachamento?
Este pode ser considerado um dos exercícios mais completos e complexos
que existem, pois a composição de músculos, articulações e tendões
envolvidos é imensa. Mas, por hora, vamos nos ater a uma articulação em
particular para entendermos melhor sobre a questão de não ultrapassar o
joelho da ponta do pé. Vamos falar sobre a articulação do tornozelo, que
é extremamente importante neste exercício. Para o praticante realizar o
exercício (agachamento) sem ultrapassar o joelho da ponta do pé, esta
articulação fica praticamente imóvel. Esta ação sobrecarrega outras
estruturas. Quando o praticante ultrapassa o joelho da ponta do pé, as
forças que agem sobre o ALH (aparelho locomotor humano) são distribuídas
entre as estruturas envolvidas, gerando uma dorsiflexão do tornozelo,
fazendo com que o tibial posterior se contraia. Esta ação do tibial
posterior gera uma rotação interna da tíbia, consequentemente, uma
rotação externa do fêmur, diminuindo assim o ângulo Q.
Concluímos
que, do ponto de vista da segurança e da eficiência, distribuir a carga
entre as estruturas envolvidas em qualquer movimento realizado pelo ALH
(aparelho locomotor humano) é a melhor estratégia a ser adotada. Claro
que existem inúmeras outras variações e estratégias de treinamento, e
cabe ao professor responsável pela montagem do programa escolher a que
melhor se aplica à pessoa em questão.
Referências dos estudos:
HAMILL, J. Bases biomecânicas do movimento humano. 2ª edição, São Paulo-2008
Journal of Biomechanics -2010
Fonte:
Portal da educação física